Uma década após grave acidente em circo nos EUA, brasileira fala pela 1ª vez: ‘quis levantar, o corpo não me obedeceu’


No espetáculo de circo, oito acrobatas compunham uma formação chamada de ‘candelabro humano’. De repente, um choque — as artistas despencaram no chão. Nove pessoas ficaram feridas, sendo o caso de Stefany Neves o mais grave. A acrobata brasileira que quase morreu em um circo americano
Um, dois, só três segundos. E o show… irou tragédia. tudo mudou. A queda foi de uma altura de 12 metros. Eram oito artistas. Três delas, brasileiras.
A imagem do acidente correu o mundo. Nove pessoas ficaram feridas, uma delas em estado grave. Era Stefany Neves, que tinha 19 anos na época.
“Eu tinha tantos sonhos. Tantos sonhos que pra mim foram esmagados.”
“Eu era a do meio, a que tava mais baixo, justamente por ser pequenininha, magrinha. então tava todo mundo em cima de mim.”
Se tudo tivesse dado certo naquele dia 4 de maio de 2014, a coreografia seguiria com muita dança e acrobacias suspensas no ar. Mas não deu.
“Eu achava ‘por que eu?’.”
Momento em que brasileira sofre grave acidente em apresentação de circo em maio de 2014
Reprodução Fantástico
Era um espetáculo de circo. Oito acrobatas, numa formação chamada de “candelabro humano”. De repente, um choque — as artistas despencaram no chão.
Aconteceu nos Estados Unidos, mas só agora, depois de 10 anos, Stefany decidiu contar, pela primeira vez, detalhes sobre o acidente e sobre sua recuperação física e emocional.
“A noite anterior eu não dormi. Acho que era uma grande intuição. Às sete eu levantei, me arrumei, peguei o ônibus. A gente morava no trem.”
“E aí quando começa esse show, a cortina cai e logo depois, segundos, a estrutura cai. Eu acordo no chão. Eu não conseguia respirar.”
“Desmaiei. A minha consciência ia e voltava. Numa dessas vezes que eu tento acordar, a primeira coisa que eu quis fazer foi me levantar. O corpo não me obedeceu.”
Stefany teve o fígado perfurado, duas costelas, o fêmur e outros ossos quebrados. A segunda parada cardíaca veio quando os médicos tentavam estancar uma hemorragia interna. Ela resistiu. E quando achava que tudo, finalmente, começava a correr bem…
“Quando eu pensava que eu já estava evoluindo pra que eu pudesse ir pra um hospital de reabilitação, eu começo a passar muito mal. É feito um exame e eu descubro uma infecção grave.”
Uma década após grave acidente em circo nos EUA, brasileira fala pela 1ª vez: ‘quis me levantar, o corpo não me obedeceu’
Reprodução Fantástico
“Eu cheguei a pesar 26 quilos, hoje eu tenho 46, então eu fiquei 20 quilos abaixo do que eu estou. E cheia de fratura, ao mesmo tempo tinha gesso, placa.”
“Eu pensava assim: ‘por que com 19 anos? Por que esse acidente não aconteceu depois?’ Eu queria ter vivido mais, sonhado mais.”
Apoio
O refúgio era o carinho da mãe, que esteve o tempo todo ao seu lado.
“É uma dor inexplicável. A sua filha sai da sua casa, perfeita, com sonhos a realizar, carregando uma sapatilha nas costas, uma sapatilha de balé.”
E nunca chorava na frente da filha. “[Chorava] no corredor, no banheiro. Só. Mas na frente dela não podia. Eu tinha que dar força a ela.”
Os médicos não acreditavam que Stefany sobreviveria. Ela estava fraca, desnutrida, com o corpo machucado.
Stefany traduzia para os pais o que os médicos diziam
“Eu não podia imaginar o coração da minha mãe ao escutar aquilo da própria filha. E ela me mandou virar pro médico e falar na cara dele: ‘a minha filha vai sobreviver!’.”
“E eu sobrevivi. Eu já sobrevivi à queda, à parada cardíaca, duas. E mais uma vez.”
Ela voltou para casa depois de três meses no hospital.
A jovem ficou na faixa de 35 quilos por nove anos. E só de um ano e meio para cá ela começou a ficar mais recuperada fisicamente.
Stefany está escrevendo um livro sobre tudo por que passou. Até hoje, já foram dez cirurgias.
“Eu descobri há dois anos que eu tenho doença arterial, alguma artérias são entupidas, obstruídas, por conta das várias intervenções cirúrgicas.”
Indenização
A Justiça americana determinou pagamento de indenização.
“Nada paga as minhas sequelas, mas foi, sim, algo que, pela Justiça dos homens, foi razoável.”
“Houve uma negligência. O mosquetão que segurava o aparelho todo foi mal colocado, mal cuidado.”
Outras vítimas
As outras duas brasileiras que se acidentaram naquela noite junto com Stefany também não retomaram suas carreiras no circo.
Daiana é mae de duas crianças. e Widnyneves trabalha em um hospital em Orlando, na comunicação entre médicos e pacientes.
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