Pais de uma das alunas que fizeram ofensa racial contra filha de Samara Felippo pedem desculpas e dizem ter decidido tirar a filha da escola


Em comunicado enviado à comunidade escolar, ao qual o g1 teve acesso, os pais afirmam que a adolescente não é reincidente e nunca teve denúncias prévias de mau comportamento. O colégio Vera Cruz, na Zona Oeste de SP, onde estudam as filhas da atriz Samara Felippo e do jogador Leandrinho.
Montagem/g1/Reprodução/Instagram
Os pais de uma das alunas acusadas de ato de racismo contra uma das filhas da atriz Samara Felippo na semana passada vão retirar voluntariamente a filha da escola de alto padrão Vera Cruz, na Zona Oeste de São Paulo. A informação foi compartilhada em um comunicado enviado à comunidade escolar pelo WhatsApp, ao qual o g1 teve acesso.
A atriz também confirmou à reportagem que foi procurada pelos pais que se desculparam pelo ocorrido e contaram sobre a saída da filha. Ela ainda disse que o pedido de desculpa foi aceito, porém “as retratações serão feitas”.
No comunicado, os pais afirmam que a filha de 13 anos “não é reincidente e nunca teve denúncias prévias de mau comportamento. É uma adolescente em formação como cidadã – como os filhos de todos vocês. Que comete erros e acertos, como todos nós já cometemos em nossas vidas”.
“Têm sido dias de muita reflexão. Apesar dos esforços individuais, da escola e de toda a comunidade, o episódio deixa claro que ainda há um longo e árduo caminho pela frente para enfrentarmos o racismo estrutural, dentro e fora de nossas casas. Gostaríamos de agradecer as dezenas de mensagens que recebemos de vocês na última semana nos dando apoio e suporte para cruzarmos esses desafiantes dias para nossa família – e entendendo que o ato de violência praticado por nossa filha foi uma exceção, e não a regra, em sua conduta ética nessa transição complexa que é a adolescência”, declaram no texto.
“Por fim, com a saída voluntária da Gabriela, esperamos que os necessários debates da luta antirracista dentro de uma instituição de ensino com jovens em formação se deem com lucidez e razão. Esperamos que as discussões que continuam após esse episódio gerem luz e soluções efetivas. Dentro de nossas possibilidades, vamos contribuir para isso”, complementam.
Denúncia
Neste sábado (27), a atriz Samara Felippo compartilhou com o g1 que a filha de 14 anos foi vítima de racismo na escola de alto padrão Vera Cruz, na Zona Oeste de São Paulo, na última segunda-feira (22).
A vítima é filha de Samara com o ex-jogador de basquete Leandro Barbosa, o Leandrinho, que mora nos Estados Unidos, e atualmente tem mais duas filhas com outra mulher.
Segundo Samara e o colégio, duas alunas do 9° ano pegaram um caderno da garota, que é negra, arrancaram as folhas e escreveram uma ofensa de cunho racial em uma das páginas. Na sequência, o caderno foi devolvido aos achados e perdidos.
Samara Felippo se manifesta sobre mensagens de apoio que recebeu após pedir expulsão de alunas acusadas de racismo
Reprodução/Instagram
“Todas as páginas, de um trabalho de pesquisa, elaborado, caprichado, valendo nota, feito por ela, foram arrancadas violentamente e dentro do caderno havia a frase [racista]. O caderno já está em minhas mãos e um novo caderno já foi dado a minha filha”, relatou Samara em uma carta a um grupo de pais da escola.
A atriz registrou boletim de ocorrência e afirmou que ainda não definiu se vai tirar a filha da escola.
“Ainda estou digerindo tudo e talvez nunca consiga, cada vez que olho o caderno dela ou vejo ela debruçada sobre a mesa refazendo cada página dói na alma. Choro. É um choro muito doído. Mas agora estou chorando de indignação também.”
Episódios anteriores
Samara diz que a filha já havia passado por episódios de preconceito anteriores, mas que só agora o “racismo se materializou”.
“Antes, ela queria não enxergar. Doía ver, só queria fazer parte de uma turma e era excluída de trabalhos, grupos, passeios, aceitava qualquer migalha e deboche feito pelas mesmas garotas, e seu nome sempre era jogado em fofocas, ‘disse me disse’ e culpada por atos que não cometia. Lembrando do caso do carregador que sumiu numa festa e a única acusada foi ela. [Não atribuo aqui esse caso as atuais agressora].”
A atriz afirma querer levantar um debate sobre o que uma escola precisa fazer para ser considerada antirracista – como se coloca o Vera Cruz.
A atriz Samara Felippo e as duas filhas, fruto da relação com o jogador de basquete Leandrinho.
Reprodução/Instagram
“Tem algumas coisas na escola que eu não concordo. A política de cotas que eles adotam vai só até o quinto ano. Então, um adolescente negro que vai para a escola no sétimo, no oitavo, no nono ano, não vai se sentir representado, vai ser um ambiente hostil, majoritariamente branco. Eu quero levantar um debate assim: o que é uma escola antirracista de qualidade?”
“Porque essas meninas [que agrediram a filha da atriz] estudam desde sempre no Vera [Cruz], e cometem um tipo de ato como esse. Então, não está fazendo efeito, você não está fazendo efeito (…) Tem que refazer, tem que repensar, tem que fazer mais.”
Alunas foram suspensas por tempo indeterminado
Em nota, o Vera Cruz informou que as estudantes foram suspensas por tempo indeterminado, e também estão proibidas de participar no Estudo do Meio na Serra da Canastra. A instituição ainda afirmou que novas sanções poderão ser adotadas.
Confira nota de posicionamento na íntegra:
“No início desta semana, tomamos conhecimento de uma grave agressão racista entre alunos do 9º ano. Um caderno de uma aluna negra foi roubado, teve folhas arrancadas, uma ofensa de cunho racial altamente ofensiva foi escrita numa das páginas. Desde o primeiro momento, reconhecemos a gravidade deste ato violento de racismo, nomeando-o como tal, e imediatamente foram realizadas ações de acolhimento ao aluno agredido e sua família. Desde então, viemos trabalhando cuidadosamente sobre esse caso e nos comunicando muito intensamente com as famílias de todos os alunos envolvidos.
No dia seguinte, os agressores se identificaram e se apresentaram à Escola, com suas famílias, e diversas medidas foram tomadas, sempre no sentido de acolher o aluno vítima da agressão e sua família, bem como no sentido de garantir que os alunos agressores entendessem a dimensão de seu ato. Depois de amplo e intenso processo de apuração, foi possível promover um encontro entre os três alunos envolvidos, com mediação da escola.
Em seguida, os agressores foram informados das sanções definidas inicialmente, dentre elas, uma suspensão por tempo indeterminado, e proibição da participação no Estudo do Meio na Serra da Canastra. Novas sanções poderão ser adotadas, conforme apuração e reflexão sobre os fatos. É importante sublinhar que as alunas não reincidiram em agressões racistas; a Escola não tem conhecimento de qualquer outra atitude racista de ambas as alunas.
As ações punitivas foram determinadas conforme regras e procedimentos institucionais, que levam em consideração os sentidos das punições no ambiente escolar. As sanções foram definidas pelas equipes da Escola, considerando a gravidade das ofensas. Ações de reparação ainda serão definidas.
Em 2019, a Escola Vera Cruz iniciou um Projeto para as Relações Étnico-Raciais, com ações no ambiente escolar de enfrentamento ao racismo estrutural: olhar sobre o currículo escolar, formação continuada, ampliação da diversidade racial entre alunos, professores e gestores, dentre outras. Ficou evidente a importância da ampliação do letramento racial, do não silenciamento de manifestações racistas, do pronto e amplo amparo às vítimas de eventuais agressões racistas e do encaminhamento adequado de ações de sanção e reparação nestes casos. Entendemos que um projeto de educação para as relações raciais é um projeto de transformação dos alunos. Sua construção se dá pelo enfrentamento direto e pelas ações educativa, mais do que pelo entendimento de que o isolamento e expulsão dos alunos que cometeram atos racistas seriam a única medida cabível. O que almejamos é a constituição de um ambiente, para alunos, familiares e profissionais, de promoção da diversidade e do respeito mútuo, um ambiente onde todas as pessoas se sintam respeitadas e valorizadas independentemente da sua raça, etnia, religião, condição social, deficiência etc”.
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