No Dia da Educação, escritor Pedro Bandeira e professora infantil falam sobre relevância da data: ‘Todo dia é dia’


Fernanda Machado, de Alumínio (SP), e o escritor, que atualmente mora em São Roque (SP), abordaram, em entrevista ao g1, a importância do papel do professor na sociedade, além de métodos de alfabetização que precisam ser reforçados cada vez mais, como a leitura. Escritor Pedro Bandeira e professora Fernanda Machado falam sobre importância do Dia da Educação
Marcus Leoni/Arquivo Pessoal
“Todo dia é ‘Dia da Educação’ para mim”. A frase anterior foi dita pelo escritor Pedro Bandeira sobre a data, comemorada neste domingo (28), que marca o movimento em prol da educação firmado por diversos países, incluindo o Brasil.
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O g1 conversou com Bandeira e a professora de língua portuguesa Fernanda Machado sobre a importância do papel do professor na sociedade, além de métodos de alfabetização que devem ser preservados, como a leitura infantojuvenil.
“Todos os dias são momentos para homenagearmos os professores”, pontua Pedro Bandeira. “Acontece que hoje, no Brasil, eles são pouco respeitados.”
“Veja que em todos os países bem desenvolvidos, os professores estão no topo do respeito e da admiração social”, comenta o escritor.
Pedro Bandeira é conhecido por clássicos da literatura infantojuvenil como ‘O Fantástico Mistério de Feiurinha’, ‘A Droga da Obediência’ e ‘A Marca de uma Lágrima’
Marcus Leoni/Divulgação
E por falar em professores, Fernanda complementa dizendo que esta é uma oportunidade para celebrar, refletir e avançar: “É necessária a reflexão para encontrar meios de superar as dificuldades encontradas no dia a dia em ‘chão de sala’, bem como em todo o sistema educacional. Mas também há que se comemorar cada conquista já alcançada desde a universalização da educação no Brasil, garantida pela constituição de 1988”.
Fernanda tem 46 anos e trabalha na área desde 2002. Os 12 primeiros anos foram com educação infantil, em uma creche, e os 10 seguintes com ensino fundamental dois (do 6° ao 9° ano), sempre na rede pública. Atualmente, seus alunos variam entre 11 e 14 anos.
A educadora – ou “Dona Fer”, como costuma ser chamada por seus alunos – comenta que a parte mais desafiadora da profissão é, “sem dúvida, a desvalorização do papel do professor na sociedade”.
“Isso se soma à falta de estrutura adequada, de investimentos na formação continuada e de melhores condições de trabalho, que são fatores determinantes dos problemas enfrentados por todos aqueles que escolhem a docência como profissão. Não por acaso temos menos jovens interessados em seguir carreira na educação, infelizmente”.
Fernanda Machado lamenta a forma como o papel do professor é desvalorizado na sociedade
Arquivo Pessoal
A leitura na educação infantil
“O ideal seria que as histórias e livros infantis fossem introduzidos na vida das crianças pela família, uma vez que a escola ‘entra’ muito tarde na vida delas”, comenta Pedro Bandeira, concluindo que os professores acabam sendo os verdadeiros responsáveis por incentivar os alunos ao hábito da leitura.
Atualmente, Pedro Bandeira mora em São Roque (SP). O renomado escritor de livros infantis conta com mais de 100 obras publicadas, incluindo os clássicos “O Fantástico Mistério de Feiurinha”, “A Droga da Obediência” e “A Marca de uma Lágrima”.
“Educar sem livros de ficção dirigidos às idades e fases de desenvolvimento físico e emocional dos alunos, seria como ensinar natação a alguém num clube sem piscina. A necessária apropriação da língua para crianças e jovens é semelhante ao treinamento incessante de alguém que pretende tornar-se um nadador digno de medalhas nas Olimpíadas.”
No Dia Nacional do Livro Infantil, Pedro Bandeira destaca a leitura como formadora de cidadãos: ‘Literatura é que educa’
A professora Fernanda Machado concorda e, inclusive, utiliza os livros do autor em rodas de leitura em sala de aula. Para ela, “ser a mediadora desse encontro é um verdadeiro privilégio”.
“O ser humano lê o mundo que o cerca desde os primeiros anos de vida, utilizando seus sentidos para absorver todas as informações e compreender tudo aquilo que sente. Ao dominar a competência da leitura, um novo mundo se abre. Sua capacidade de interpretação e compreensão se ampliam, de argumentação e criticidade também. A leitura é uma ferramenta poderosa, e promover o acesso a ela é algo realmente mágico. Não há como explicar o encantamento de um leitor ao encontrar um livro que atenda suas expectativas.”
Fernanda Machado, professora de Língua Portuguesa na rede pública de ensino, utiliza obras do escritor Pedro Bandeira em aulas com roda de leitura
Arquivo Pessoal
O escritor acredita que as crianças e jovens devem praticar esse hábito para desenvolver compreensão à língua portuguesa, além de aumentar o “estoque vocabular”. “Em seu futuro, tudo o que ela precisa é da plena compreensão leitora, porque tudo está escrito, seja no papel ou nas telas. Qualquer que seja a profissão que ela venha a escolher”, diz.
Para que eles aceitem essa circunstância, ele deixa uma sugestão aos responsáveis: “Ofereçam livros divertidos, emocionantes, cheios de humor ou de aventura, para que eles encontrem prazer nesse treinamento”. Além disso, existe um “tipo” de livro para cada faixa etária.
“Um livro adulto poderá ser lido e entendido por qualquer bom leitor, tenha ele 20 ou 70 anos. Mas, para chegarmos à idade adulta, passamos por uma série de etapas em nosso desenvolvimento. Certamente uma criança aos seis anos compreenderá pouco algo escrito para uma criança de 10, enquanto não haverá nenhuma diferença de compreensão entre um adulto de 50 e outro de 54 anos em relação a um livro para adultos.”
Escritor Pedro Bandeira explica que, para cada fase e idade, há um ‘tipo’ de livro adequado
Ayumi Yamamoto/Divulgação
Introdução à leitura nas escolas
Considerando que, na maioria das vezes, os professores influenciam mais na leitura das crianças do que os pais, Pedro Bandeira sugere algumas dinâmicas aos mestres, como:
Contar e ler histórias para os alunos: “Devem aproveitar todas as oportunidades para levá-los ao treinamento da leitura e da escrita”;
Inovação: “Uma professora pode entrar na classe dizendo ‘É permitido conversar’. Depois do espanto das crianças, ela continua: ‘Mas por escrito. Todo mundo vai escrever bilhetes para o colega que quiser, e ele terá de responder ao bilhete’. Como esta oferta de treinamento parece uma brincadeira, os alunos aceitarão a proposta”;
Gravações: “Gravar a leitura em voz alta de um aluno e depois fazê-lo ouvir o que leu, para que possa concluir, por ele mesmo, que não consegue ler com a facilidade que fala, e então aceitar os exercícios que a professora utilizará para que ele melhore a leitura e compreensão do que lê”.
Pedro Bandeira sugere dinâmicas divertidas para professores usarem com os alunos em sala de aula
Will Sandrini/Divulgação
“Há dezenas de dicas que eu poderia oferecer às professoras. Eu diria que elas devem tentar oferecer o encanto da leitura aos seus alunos, desde muito cedo.
Aos 82 anos, o escritor conquistou os corações de inúmeras crianças e profissionais da área da educação por todo o Brasil. “Pelo menos uma vez por mês eu ganho um ‘prêmio Nobel’. Isso ocorre quando recebo um e-mail ou uma mensagem dizendo: ‘Pedro, eu detestava ler, mas, depois de ler um livro seu, me apaixonei pela leitura!’”, conta.
‘Dar asas a todos’
Para aqueles que estão iniciando carreira na área, ou possuem o desejo de iniciar um dia, a professora Fernanda tem um pedido:
“Não permita jamais que os desafios que surgirem ao longo do caminho diminuam o sonho de ver seus alunos voarem alto. Sim, eles irão voar lindamente, acredite! E levarão um pedacinho de você junto deles. Acredito que este seja o grande ideal da Educação: dar asas a todos, e voarmos juntos”, conclui.
Fernanda Machado trabalha na área da Educação há 22 anos
Arquivo Pessoal
*Colaborou sob supervisão de Matheus Arruda
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