Livros jogados no lixo por prefeita em SC nunca foram emprestados para crianças, diz biblioteca

Após a prefeita de Canoinhas (SC) jogar dois livros no lixo de uma biblioteca comunitária, sob a justificava de que eram impróprios para crianças, a idealizadora e produtora do projeto Mundoteca esclareceu que os exemplares nunca foram emprestados ou indicados para crianças.

Prefeita de Canoinhas causou polêmica após descartar livros

Prefeita de Canoinhas causou polêmica após descartar os exemplares sob a justificativa de que tinham teor sexual – Foto: Internet/Reprodução/ND

Na gravação, os livros que a prefeita Juliana Maciel (PL) descartou e chamou de “porcaria” são o  “Aparelho Sexual e Cia”, de Zep e Hélène Bruller, e “As melhores do analista de Bagé”, de Luís Fernando Veríssimo.

Segundo a FGM Produções, o primeiro tem indicação para o público juvenil e foi emprestado somente para uma pessoa adulta na biblioteca. Já o segundo é recomendado para o público adulto e nunca foi emprestado.

“A Mundoteca é uma biblioteca pública comunitária para todas as idades. Todos os livros que compõem o acervo do projeto passam por uma curadoria de especialistas e trazem uma etiqueta com a faixa etária recomendada”, diz um trecho da nota.

Sem vínculo com o Governo Federal, rebate produtora

A produtora também explicou que há um controle rigoroso de empréstimos dos livros feito pelas educadoras sociais, que só permitem os empréstimos para pessoas com a idade adequada.

Lei Rouanet contempla espaços de leitura como bibliotecas comunitárias – Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Ainda de acordo com a produtora, a Mundoteca não tem qualquer vínculo com a atual gestão do Governo Federal, conforme dito pela prefeita. O projeto foi aprovado em 2018 e executado entre 2019 a 2023.

A unidade de Marcílio Dias, na cidade de Canoinhas, foi inaugurada em 19 de novembro de 2022 e gerida pelo projeto por oito meses. Após esse período, o gerenciamento do espaço e acervo ficaram sob os cuidados da prefeitura.

Prefeita de Canoinhas acusa Governo Federal de patrocinar conteúdo

Ainda no vídeo polêmico, a prefeita orientou outros chefes do Executivo municipal a monitorarem o acervo do projeto Mundoteca espalhado pelo Brasil e acusou o Governo Federal de patrocinar esse tipo de conteúdo.

“É a tal da Lei Rouanet, coisa que vocês também já conhecem né? Mais uma vez o governo do PT faz esse tipo de coisa. Bota o adolescente, bota a criança, induz a coisa que não é dos valores do que a gente acredita, não é o que a família quer que ele aprenda, não é o que realmente uma criança ou até um adolescente precisa ler em uma biblioteca”, afirmou Juliana.

O governo Lula (PT), porém, pontuou que, apesar de acessar uma política pública de incentivo, através da Lei Rouanet, a Mundoteca não é uma ação do Governo Federal.

A nota explicou ainda que a iniciativa implanta bibliotecas públicas por meio de contratos com prefeituras, que têm plena autonomia da gestão sobre seus espaços de leitura.

“Dessa forma, a prefeitura em questão tinha plena autonomia sobre o acervo da biblioteca. Sendo assim, cabia aos responsáveis locais conferir se o acervo estava a contento da comunidade dentro das tratativas do contrato com o projeto Mundoteca”, explicou.

O Governo Federal ressaltou também que não envia livros para escolas e espaços dos sistemas municipais e estaduais de educação sem que haja a devida solicitação dos materiais por gestores e educadores escolhidos de maneira democrática nos conselhos de educação.

Livros serão devolvidos, segundo a prefeitura

Apesar de a prefeita aparecer jogando os livros no lixo, o ato teria sido simbólico, pois a prefeitura esclareceu que as obras serão encaminhadas aos responsáveis pela criação do projeto da Mundoteca.

A Prefeitura de Canoinhas destacou ainda que todo material disponibilizado na internet pela Mundoteca aponta o Ministério da Cultura como realizador e que as prefeituras entram como apoiadoras.

Livro jogado no lixo já foi alvo de polêmica

O livro “Aparelho Sexual e Cia” já havia causado polêmica em 2016. Na época, um vídeo que circulou na internet apontou que o governo federal distribuiu e, assim, estaria “estimulando precocemente as crianças a se interessarem por sexo”.

Em nota, o MEC (Ministério da Educação) desmentiu a informação e disse que não produziu e nem adquiriu ou distribuiu o livro, bem como não havia qualquer vinculação entre o ministério e o livro, já que a obra tampouco constava nos programas de distribuição de materiais didáticos levados a cabo pela pasta.

Comercializado pela Companhia das Letras, o livro traz a seguinte sinopse: “Falar sobre amor e sexo com os jovens não é fácil. Mas apesar de toda a complicação, essa é uma conversa necessária e inevitável, afinal a informação correta é o maior inimigo dos problemas – dos mais diversos tipos — que os jovens podem vir a enfrentar. Com o humor do celebrado personagem de quadrinhos francês Titeuf (na versão brasileira, Tito) e o rigor científico adequado, este guia é uma alternativa original para pais e professores em apuros”.

Outro livro apontado pela prefeita no vídeo é “As melhores do analista de Bagé”, escrito por Luís Fernando Verissimo. A obra traz de volta à cena um Analista de Bagé e promete reunir histórias “deliciosas” em um clássico do humor brasileiro.

“Nas histórias, ilustradas por Edgar Vasques, este analista controverso e politicamente incorreto trata de traumas comuns a todos nós – frigidez feminina, ninfomania, ejaculação precoce, complexo de Édipo, rejeição, ciúme ou inveja – com respostas rápidas e inesperadas. As tirinhas selecionadas para esta edição foram publicadas originalmente na revista Playboy, da Editora Abril, entre junho de 1983 e outubro de 1990, com exceção de “Papai fresco” (inédita), e “Meu divã é todo seu”, publicada em “Superinteressante” (Ed. Abril, setembro de 1987)”, diz um trecho da sinopse.

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