Tramandaí monta centro de apoio e espaço para doações às vítimas das enchentes no RS

Muitas famílias se dirigem à cidade buscando um lar provisório e ajuda enquanto a água invade suas casas

A solidariedade é o principal motor que move o Rio Grande do Sul em meio à tragédia que assolou famílias e destruiu cidades. Em Tramandaí, no Litoral Norte – uma das poucas regiões poupadas pela catástrofe –, a prefeitura montou um centro de apoio a vítimas das enchentes, com espaço para recebimento de doações, no Centro Municipal de Eventos. Muitas famílias têm se dirigido à cidade buscando um lar provisório e ajuda enquanto a água invade suas casas.

A estrutura montada recebe roupas, alimentos, colchões, água, itens de higiene, ração e brinquedos. Além de serem repassados às vítimas que procuram o espaço, os itens são encaminhados para Porto Alegre e Região Metropolitana. O local também está recebendo e encaminhando doações de outros Estados.

A maior parte das pessoas atendidas são desalojadas – isto é, têm uma casa de veraneio ou ficam hospedadas na residência de parentes ou amigos. Há muitas casas na região recebendo grupos familiares, conforme a prefeitura. Há, porém, cerca de 30 famílias desabrigadas, que estão sendo acolhidas em um CTG do município. Mais de 3 mil pessoas da Região Metropolitana já foram atendidas no centro, e vários itens já foram enviados à região. Um caminhão carregado com água partirá ainda nesta quarta-feira (8) rumo a Canoas.

— É pouca a realidade de famílias sem ter para onde ir. O que elas não têm é a roupa, alimento, produtos de higiene. Nós acolhemos e damos — explica Patrícia Beck, coordenadora do centro.

Muitos moradores de Canoas estão sendo atendidos no local nesta quarta-feira, como Júlia Santa de Souza, 73 anos. A aposentada, que recebe um salário mínimo, perdeu tudo quando a casa na qual morava com os dois filhos no bairro Mathias Velho, em Canoas, foi inundada.

— Quase morri, a água já estava na cintura quando eu saí do telhado da casa. Fui resgatada, um barco passou lá e pegou — lamenta.

Agora, a família está abrigada na casa de um parente em Tramandaí. A aposentada foi ao ginásio procurar ajuda: uma roupa, já que saiu de casa apenas com a vestimenta molhada do corpo, alimentos e itens de higiene. Quando a água baixar, a família espera voltar, limpar e recomeçar.

Mobilização no litoral

A mobilização em Tramandaí começou no último final de semana, quando o poder público percebeu que muitas pessoas se dirigiam ao município e necessitavam de ajuda – algumas chegavam apenas com a roupa do corpo. Assim, foi organizado um espaço para acolhimento e doações. No domingo (5), a população começou a levar itens ao local. Pessoas de outras cidades também se mobilizaram, e a iniciativa ganhou grande volume. Para que a estrutura funcione, centenas de voluntários ajudam a organizar cada etapa dos processos.

Os voluntários encaminham a ajuda e montam kits para as pessoas afetadas. Equipes de saúde estão no local atendendo as pessoas, fornecendo também amparo psicológico e receitas para quem necessita. As equipes também se dirigem às casas nas quais as vítimas estão alojadas quando há necessidade.

Isis Sagaz, 24, trabalha como voluntária no local desde o primeiro dia. A massoterapeuta é de Novo Hamburgo, mas mora em Tramandaí. Por não conseguir ajudar em seu próprio município, que também foi afetado, decidiu auxiliar da maneira que pôde.

— A gente está conseguindo atender uma demanda grande de pessoas, mas é agoniante, é bem doloroso ver tudo o que está rolando. A vontade era de conseguir prover muito mais coisas pra eles, mas a gente tem de saber racionalizar. Queria que a gente tivesse como receber mais pessoas ainda, só que, por estar um pouco afastado, não tem como. Vamos continuar aqui firme e forte ajudando, recebendo e trazendo o mínimo de conforto para quem está precisando — relata.

As equipes estão preparando a melhor estrutura possível para acolher as vítimas, reforça Patrícia Beck – muitas chegam em sofrimento e querem, também, um simples abraço. A prefeitura não exige documentação das vítimas, apenas solicita o nome e a cidade de onde veio para realizar um cadastro. A população tem sido uma grande aliada para manter o local funcionando, acrescenta.

A faxineira Luciane da Cunha, 49, também procurou atendimento no local nesta manhã. Ela e sua família vieram de São Leopoldo e, assim como em vários casos, perderam tudo com a elevação do rio.

— A água tapou até o telhado, tudo. A minha mãe perdeu tudo também. É uma casa um pouquinho mais abaixo, que foi bem próximo ao dique, bem onde rompeu. Foram as primeiras casas. Essa provavelmente não vai sobrar nem o telhado. A única coisa que a gente conseguiu tirar foi os idosos e cachorro, pertences nada — lastima.

A mãe de Luciane, de 72 anos, relutou em sair do imóvel e está em choque, conforme a filha. Toda a família está agora abrigada em uma casa de amigos que emprestaram a chave.

— A gente está arrecadando o que a gente pode de comida e vamos esperar baixar água para poder voltar para ver o que sobrou — relata.

A faxineira elogiou o atendimento prestado no centro de apoio e ressalta que só tem a agradecer a quem pode ajudar.

— A gente veio pegar a gente o que a gente puder ganhar, não podemos rejeitar nada, nem uma ração para os cachorros, tudo ajuda. E o pouquinho que a gente tem de dinheiro, a gente vai revezando, uma carninha, um carreteiro, uma massa. A gente não sabe quantos dias vai ficar nessa situação. Eu trabalho com faxina, então, o pessoal de lá, que eu tenho faxina, está com a casa debaixo d’água também. Perdi tudo e a minha renda também — conta.

Uma grande quantidade de pessoas se deslocou até o município, conforme o prefeito Luiz Carlos Gauto. Isso demandará uma série de situações de saúde, que já conta com um atendimento especial, e de alimentação, enquanto não for possível o retorno até suas residências, reconhece. A ação vai durar enquanto houver condições, ressalta.

— É muito importante e é muito gratificante a gente poder ajudar o próximo. A gente viu que o povo gaúcho, o povo brasileiro, na verdade, está demonstrando esta sensibilidade neste momento difícil. É o povo ajudando e salvando o povo. Somente de Tramandaí e Imbé foram mais de cem embarcações para apoiar e salvar gente. Temos relato aqui de inúmeros salvamentos feitos por nossos pescadores. É muito gratificante saber que o nosso município está bastante envolvido nessa questão humanitária também — destacou.

O que doar

A prefeitura de Tramandaí atualiza regularmente a lista de itens necessários pelas redes sociais. Os itens podem ser levados ao Centro Municipal de Eventos (R. Ernesto Nunes Bandeira, 920 – Centro).

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