‘Qualidade de vida’: Blumenau recebe evento sobre tratamento para doença de Parkinson

Blumenau sediará um evento importante para falar sobre um tratamento significativo para a doença de Parkinson. O Workshop DBS (Deep Brain Stimulation), ou Estimulação Cerebral Profunda em português, acontece na próxima sexta-feira (11), no Campus I da Furb (Universidade Regional de Blumenau). O encontro conta com o apoio da NDTV Record e a organização Viva Parkinson

'Qualidade de vida': Blumenau recebe evento sobre tratamento para doença de Parkinson - Foto: Divulgação

‘Qualidade de vida’: Blumenau recebe evento sobre tratamento para doença de Parkinson – Foto: Divulgação

O empresário e proprietário da Atolpet em Blumenau, Adriel Rohling, passou pelo procedimento cirúrgico chamado DBS em maio do ano passado. Ele convida pacientes, familiares e toda a comunidade para saber mais sobre o tratamento que mudou sua vida.

Tratamento para a doença de Parkinson melhorou qualidade de vida do empresário

Em entrevista ao Portal ND Mais, Rohling contou que foi diagnosticado com a doença de Parkinson no início de 2018. Ele havia recém completado sua primeira maratona e estava se preparando para a segunda quando foi surpreendido pela notícia que transformaria seus dias.

“Quando fui diagnosticado, me deu uma sensação de impotência, de que o mundo tinha desmoronado sobre a minha cabeça. No início foi bem duro, foi um período de descobertas e, depois do diagnóstico, eu vi que não adiantava lutar contra a situação, o esquema era pegar o limão e fazer uma limonada, então eu passei a evitar a negatividade, ver as coisas boas que a vida poderia me proporcionar. Através disso, eu venho me reinventando dia a dia, mês a mês e ano a ano para poder ter uma vida melhor e conviver com o Parkinson”, comentou.

O empresário já conhecia a doença de perto, pois sua avó, que morava com ele, também foi diagnosticada com Parkinson anos antes.

Apesar de não ter cura, existem tratamentos que minimizam os sintomas da doença e melhoram a qualidade de vida dos pacientes. Um deles é a terapia suplementar ao tratamento do Parkinson, que consiste na estimulação cerebral profunda.

Empresário é casado e pai de dois filhos – Foto: Arquivo pessoal/Reprodução ND

Como funciona o DBS?

O médico João Filipe de Oliveira, que estará presente no evento em Blumenau, explica como funciona a terapia de Estimulação Cerebral Profunda.

O paciente passa por um procedimento cirúrgico em que um marca-passo é acoplado à pele debaixo da clavícula, no tórax, com uma extensão elétrica que é conectada a dois eletrodos implantados profundamente no cérebro.

Com o marca-passo fazendo a estimulação elétrica contínua no cérebro, as regiões que estimulam os sintomas do Parkinson são atordoadas.

“Essa terapia suplementar ao tratamento pode trazer uma grande qualidade de vida ao paciente, uma grande melhoria na funcionalidade e, quando bem empregada em fases mais precoce, pode perpetuar o paciente no mercado de trabalho, fazer com que ele possa se manter no mercado de trabalho por muito mais tempo, inclusive”, pontuou o médico.

Em um vídeo compartilhado nas redes sociais, Rohling mostra como o DBS funciona na prática, em uma das consultas realizadas após o procedimento.

“Posso dizer que depois desse tratamento a minha vida melhorou muito. A ideia de fazer o workshop na Furb sobre esse aparelho que eu coloquei é justamente para que mais pessoas saibam que existe, para que percam o medo de fazer a cirurgia, para conhecerem mais sobre esse tratamento, porque para mim fez toda a diferença”, destacou Rohling.

Confira a programação completa do Workshop

O Workshop DBS (Deep Brain Stimulation) acontece a partir das 14h de sexta-feira (11), no auditório do Bloco J do Campus I da Furb.

  • 14h – A história da neurologia funcional, com o Dr. Amauri Batista de Oliveira Junior;
  • 14h45 – Critérios de diagnóstico e indicação de DBS, com o Dr. João Filipe de Oliveira;
  • 15h30 – Como é o procedimento cirúrgico nos dias atuais, com Dr. Humberto Kluge Schroeder;
  • 16h – Coffee Break;
  • 16h30 –  Roda de conversa e perguntas livres.

Estimulação Cerebral Profunda e seus efeitos

O médico João Filipe de Oliveira detalha que uma grande parcela dos pacientes consegue ter uma melhora significativa com a Estimulação Cerebral Profunda porque ela reduz as flutuações motoras, fazendo com que o paciente mantenha a capacidade funcional motora preservada de dia e de noite.

“Isso traz uma melhora na qualidade de vida, melhora funcionalidade e uma grande parcela de pacientes consegue, inclusive, dependendo do alvo onde é estimulado no cérebro, reduzir até a quantidade de medicamentos que ele toma”, comentou.

O médico explica que é uma cirurgia delicada, a qual leva algum tempo na fase intra-operatória e no pós-operatório também, em que o paciente vai demandar cerca de 90/120 dias de programações repetitivas do marca-passo até que encontrem uma programação otimizada.

“Então, o objetivo desse workshop, pelo que vemos no planejamento da Viva Parkinson, é justamente para trazer esse conhecimento à comunidade, tanto para os pacientes e familiares, quanto para a comunidade em geral sobre o que a gente tem disponível na área da saúde brasileira, catarinense e blumenauense para ajudar os pacientes com a doença”, enfatizou João.

Sobre a doença de Parkinson

Conforme João Filipe, a doença foi descrita inicialmente em 1817 por um médico inglês chamado James Parkinson, que criou a tese da paralisia agitante, em que descreveu os sintomas que alguns pacientes apresentavam.

Cerca de 60 anos depois, ela foi denominada doença de Parkinson pelo pai da neurologia moderna, Jean-Martin Charcot, o qual percebeu que alguns pacientes tremiam e outros não, então ele decidiu dar o nome de “Maladie do Parkinson”.

“Maladie em francês é doença, só que na tradução para o português na época, infelizmente traduziram para ‘mal’, e isso fez essa visão um pouco pejorativa da doença de Parkinson como uma maldição ou algo maléfico, que a gente tenta desconstruir hoje, evitando usar o termo ‘mal de Parkinson”, explicou o médico.

Segundo João, a doença é composta por um sintoma cardinal, que é a lentificação de movimento. O paciente começa a ficar mais encarangado, lentificado para fazeres do dia a dia com atividades manuais e pelo eixo do corpo.

“Seria o exemplo de bater uma clara de ovo, que a mão fica mais lentificada, endurecida, percebe-se que ela fadiga, cansa, então quando a gente conversa com os familiares e o próprio paciente, a gente pergunta se ele está mais lento que o habitual para os afazeres do dia a dia”, explicou.

Acompanhado do sintoma cardinal vem os sintomas e sinais de suporte, como a rigidez, que é quando o paciente começa a ficar com o corpo mais enrijecido e endurecido nas extremidades dos braços e pernas, às vezes, até ocasionando uma dor crônica ao longo do tempo, que demora a perceber que isso não é um problema ortopédico ou reumatológico.

Além da rigidez também há o tremor, o qual não é essencial para o diagnóstico de Parkinson.

“O tremor pode ou não acontecer na doença de Parkinson e também a instabilidade postural, distúrbio de marcha. Então com a lentificação e mais um desses outros sintomas de suporte, a gente tem o diagnóstico da síndrome parkinsoniana, que colocamos como um fenômeno clínico de conjunto de sintomas, o parkinsonismo”.

Conforme o médico, a síndrome pode ser causada por várias etiologias, sendo a mais comum a doença de Parkinson, mas ele pode ser também medicamentoso, secundário ao AVC (Acidente Vascular Cerebral), ao tumor ou a outras doenças neurodegenerativas”.

“O diagnóstico é eminentemente clínico até hoje, ele tem uma boa acurácia no exame clínico médico e exames complementares são solicitados para descartar outras doenças”, disse.

João ainda um dos exames que ajuda a confirmar, corroborar o diagnóstico de Parkinson, sendo a cintilografia de transportador de dopamina, a qual aponta se o circuito do dopaminérgico está alterado.

Doença neurodegenerativa e perspectiva de vida

O Parkinson é uma doença crônica e progressiva que não tem cura. Contudo, o médico enfatiza que gosta de destacar aos seus pacientes que grande parte das doenças atuais de manifestação em adultos e na terceira idade também não tem cura.

“Diabetes não tem cura, o colesterol com o tempo tem uma demanda de uso de medicamentos de uma forma crônica, a pressão alta, doenças reumatológicas, então uma grande parcela das doenças não tem cura e é importante enfatizar isso para os pacientes, porque eles ficam com uma impressão de que a doença é uma virada de chave para o fim da vida deles e a gente tem que quebrar esse preconceito gerado”.

João comenta que os pacientes diagnosticadas precisam ter uma perspectiva de que é uma condição crônica, que demanda controle de sintomas com medicamentos, com equipe multidisciplinar, com fisioterapia, fonoaudiólogos caso tenha demanda, do terapeuta ocupacional, psicólogo, nutricionista e do educador físico para uma boa atividade física.

“Assim, a gente percebe que esses pacientes conseguem controlar o quadro clínico e podem voltar a ter metas, ambições, um planejamento de vida, eles conseguem ter uma perspectiva de vida com isso. Dentre esses, eu diria que o mais indicado seria uma avaliação integral do paciente, mas é fato que a atividade física vai ser parte primordial do tratamento”, pontuou.

A partir de que idade a doença se manifesta?

João Filipi explica que a doença se manifesta geralmente após os 50 anos. Nos estudos epidemiológicos quando avaliam a prevalência dos pacientes, geralmente com 60/65 anos, há uma prevalência de pelo menos 1% da população. Porém, há casos de Parkinson de manifestação precoce, antes dos 50 anos.

“Temos pacientes com manifestação até antes dos 40 anos, então entender os sintomas da doença e que existe essa perspectiva, esse conhecimento, é importantíssimo para que a gente possa fazer o diagnóstico o mais rápido possível”.

Em relação à hereditariedade e componente genético, o médico informa que há a possibilidade de “herdar” a doença, mas que não é comum e a minoria tem penetrância completa.

“A gente fala que o traço familiar pode ter, mas não que vai ocasionar a doença. Hoje, cada vez mais a gente discute sobre fatores de risco para doenças neurodegenerativas, entre elas aqueles mais típicos de síndrome metabólica, que seria a obesidade, o sedentarismo, pressão alta, diabetes e colesterol não tratados”, comenta.

João fala também de estudos epidemiológicos, os primeiros que foram feitos com a doença de Parkinson, enfatizando, por exemplo, que a tomada de água de poço dá suscetibilidade para o desenvolvimento de Parkinson e o uso de agrotóxicos sem equipamento de proteção individual, também.

“Então hoje, quando a gente fala sobre isso, a gente fala sobre os cuidados que a gente tem que ter com a nossa saúde”, completou.

Importância de grupos de apoio

O médico enfatiza a importância dos grupos de apoio para pessoas com Parkinson, que na sua concepção, são até terapêuticos, pois uma grande parcela dos pacientes começa a se isolar ao receber o diagnóstico, seja por vergonha pelo tremor ou pela dificuldade de caminhar.

“Grupos como a Viva Parkinson reintegram as pessoas na sociedade, voltam a fazer a pessoa ter o entendimento de que é uma condição crônica e que ela vai existir, mas que a gente vai poder viver bem apesar do Parkinson”, destacou.

João ainda indagou sobre a felicidade em ver cada vez mais associações se fortalecendo em prol dos pacientes, que como a Viva Parkinson, mantém uma voz ativa para ajudá-los, sendo criativos e empolgados em fazer atividades voltadas ao assunto.

 

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