Projeto refaunação: o sucesso de iniciativas que devolvem espécies ameaçadas aos seus hábitats originais

Os repórteres Sônia Bridi e Paulo Zero mostram a reintrodução de espécies que não eram vistas havia quase 200 anos, no Rio e no interior de São Paulo. Um passo importante para garantir o equilíbrio do ecossistema. Fantástico acompanhou projetos de refaunação no Rio de Janeiro e em São Paulo
No coração da cidade do Rio de Janeiro, o Parque Nacional da Tijuca é um paraíso construído árvore por árvore.
As montanhas já foram cobertas por plantações de café mas, por causa da falta de água na cidade, Dom Pedro II mandou replantar a floresta. Um século e meio depois, a mata fechada sofre agora com uma síndrome, cujo sintoma é o silêncio.
“As árvores sozinhas elas não fazem um ecossistema funcionar. Então a gente está recolocando os animais de volta para que essa floresta fique funcionando sozinha e a gente não precise mais ficar replantando as árvores aqui”, explica Marcelo Rheingantz, biólogo da UFRJ e diretor executivo do Refauna.
O Fantástico deste domingo (5) acompanhou o momento em que sete macacos bugios foram reintroduzidos na mata, após alguns meses sendo preparados para a liberdade no Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ).
“Os riscos principais são, primeiro, eles não conseguirem comida, segundo, eles não entenderem a floresta. É justamente por isso que a gente fez esse processo de aclimatação e, agora, pretende que eles utilizem”, afirmou Marcelo.
Esse foi o segundo grupo solto pelo Refauna, uma ONG formada por cientistas e voluntários (veja no vídeo acima).
A importância dos animais para a floresta
“Não é apenas reintrodução isolada, mas é uma refaunação. O foco é na área, é fazer com que aquela área, aquele ecossistema volte a ter todas as suas interações”, afirma Fernando Fernandez, presidente do Refauna.
Um exemplo emblemático de como os animais são importantes para a sobrevivência da floresta é o da cotieira. Da árvore, são extraídos frutos grandes, com um caroço muito duro. O único animal com dentes fortes o suficiente para quebrá-lo e expor as sementes é a cotia.
Há 15 anos, a professora Alexandra Pires liderou a introdução de um grupo de 62 cotias de volta ao ambiente. “Tinha cotieira, mas não tinha cotia. Foi assim que o Refauna começou”, conta a professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
São elas, as cotias, as responsáveis por enterrar as sementes pela floresta. E assim, finalmente, novas mudas de cotieiras voltaram a crescer no parque.
O maior primata das Américas
O Parque Estadual Carlos Botelho, em São Paulo, engloba um dos poucos pedaços da Mata Atlântica que seguem com um de seus moradores originais: o muriqui, o maior primata das Américas.
Em grandes grupos, eles passam o dia de árvore em árvore se alimentando principalmente de frutos – e combatendo as mudanças climáticas. Sem esses animais, não haveria a canela, árvore que capta o carbono e o transforma em madeira.
“De todas essas árvores, 90% dependem de animais para dispersar sementes, ou por morcegos, ou por aves, ou por muriquis. Se não tiver muriqui, que são os frutos grandes, com sementes grandes, essas plantas vão cair embaixo da planta mãe e não vão nem germinar”, explicou Mauro Galetti, biólogo da Universidade Estadual Paulista.
Animais como o primata são responsáveis por manter o equilíbrio e dar vida à floresta.
Os animais jardineiros
Os animais comem as sementes, que passam pelo trato digestório, e voltam para o chão da floresta, já adubadas. No solo da Reserva Ecológica de Guapiaçu (Rio de Janeiro), em um cocô de anta já floresce uma nova árvore.
As antas voltaram ao estado do Rio de Janeiro depois de mais de um século – e já se multiplicam.
“Uma floresta vazia é uma floresta empobrecida no futuro. Refaunação é para dar vida a essas florestas”, afirma Mauro Galetti.
Você pode contribuir com este projeto pelo site ParaQuemDoar.com.br/refauna.
Ouça os podcasts do Fantástico
ISSO É FANTÁSTICO
O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1, Globoplay, Deezer, Spotify, Google Podcasts, Apple Podcasts e Amazon Music trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo.
PRAZER, RENATA
O podcast ‘Prazer, Renata’ está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito. Siga, assine e curta o ‘Prazer, Renata’ na sua plataforma preferida.
BICHOS NA ESCUTA
O podcast ‘Bichos Na Escuta’ está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.