OPINIÃO: Em Defesa do Litoral Norte Gaúcho

Por Juscelino Joel Nunes*

Essas afirmações e outras, tais como: “não é hora de achar culpados”, escamoteiam a dura realidade. Existem responsáveis, sim e são fáceis de identificar. Têm nome, endereço, RG, CPF ou CNPJ.

Todos que negam o aquecimento global provocado pelo tipo de desenvolvimento capitalista. Todos que autorizaram e praticaram a devastação da Amazônia transformando em campos de criação de gado ou em minas a céu aberto. Todos os que apoiaram a desregulamentação da preservação do meio ambiente. Todos os que apoiaram a privatização do saneamento básico. Todos os que permitiram a ocupação desenfreada de áreas de risco urbano, tais como as várzeas do Rio Gravataí, dos Sinos, Caí e em Porto Alegre todos os Administradores (prefeitos, secretários de obras, diretores do Dmae e do Dep ) que abandonaram, nos últimos 20 anos, a conservação do sistema de contenção, são responsáveis sim! pela tragédia que se abateu sobre todos nós.

Nós, participantes do Movimento Unificado em Defesa do Litoral Norte Gaúcho – MOVLN/RS, surpreendidos com o número de famílias que estão se dirigindo ao litoral, seguindo a orientação do prefeito da capital cuja administração mostrou o descaso com a população, neste momento estamos mobilizados para ajudas in loco e para o acolhimento dos milhares de REFUGIADOS – esta é a definição adequada aos que para cá se dirigem nesta trágica quadra de nossa história, provocando migrações ocasionadas por mudanças climáticas. Temos advertido, através das inúmeras entidades e grupos que compõem nosso movimento, de que esta tragédia ocorreria como também denunciamos, em várias oportunidades, o modelo de ocupação desenfreada no litoral.

Sabemos que no primeiro momento, o poder público tinha e tem a obrigação de minimizar os efeitos trágicos da perda de vidas e dos poucos haveres (porque os pobres são os sempre mais atingidos nestes momentos) e conta com a grande ajuda solidária da sociedade civil. Mas não podemos simplesmente esquecer que eles foram os responsáveis pelo sucateamento dos sistemas de prevenção, foram eles que permitiram o avanço da ganância capitalista sobre áreas de proteção e áreas inundáveis. Não cabe dizer que as forças da natureza foram irresistíveis e que nada poderia ter sido feito. Fora assim, a Holanda não existiria.

Trata-se agora de salvar as vidas em risco, garantir o acolhimento dos refugiados e minimizar os danos materiais, físicos e emocionais. A vida humana é e deve ser o único valor a ser preservado nesta hora de dor coletiva.
Passados os fatos, entretanto, devemos não apenas aprender com o ocorrido, mas mobilizarmo-nos para que evitemos outros que seguramente ocorrerão se a sociedade civil organizada não agir na coerção daqueles que deveriam ter agido preventivamente.

Não podemos continuar a aceitar que as tragédias continuem a ocorrer, cada vez piores. Não podemos concordar com esse ‘novo normal’ que tentam nos impor.

O MOVLN/RS, Movimento Unificado em Defesa do Litoral Norte, foi fundado a partir da união de diversos coletivos, organizações, associações e instituições com um objetivo comum: promover o desenvolvimento sustentável do Litoral Norte. Diante das preocupações com os rumos da região, influenciados por setores ligados à especulação imobiliária e projetos de desenvolvimento que negligenciam as mudanças climáticas, os membros do MOV estão determinados a levar a bandeira da sustentabilidade e do bem-estar social a todos os cantos do litoral norte gaúcho.

*Juscelino Joel Nunes é Coordenador Técnico do MOVLN/RS

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Porto Alegre 24 Horas

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