Moradores do RS chegam a Florianópolis após enchente

Era por volta de 5h45 quando o ônibus lotado finalmente chegou ao terminal rodoviário Rita Maria, em Florianópolis. Foram mais de sete horas de viagem e 440 km percorridos entre o município gaúcho de Gravataí, na Grande Porto Alegre, e a capital catarinense.

A bordo, pelo menos 55 pessoas buscavam refúgio após a tragédia no Rio Grande do Sul. “Eu salvei o que pude, documentos e algumas fotos. Roupas eu trouxe na sacola de lixo”, conta a supervisora de telemarketing Carina Santos da Silva.

Foto mostra pessoas chegando de ônibus em Florianópolis fugindo da enchente no RS

Das poucas linhas de transporte em funcionamento no RS, apenas uma faz o transporte de passageiros que saem da capital gaúcha – Foto: André Viero/Reprodução/NDTV

Ela e o marido ficaram mais de oito horas em um carro de aplicativo tentando sair de Porto Alegre para então chegar no ponto de encontro de Gravataí e embarcar rumo a Santa Catarina. “De resto, perdi tudo. Não tenho mais casa”, desabafa.

Com a previsão de novas tempestades para a reta final da semana, o governo estadual, por meio da Defesa Civil do RS, tem solicitado aos moradores que não retornem às casas atingidas, e que busquem abrigo com familiares e amigos em outros Estados.

Jeane Machado, analista de marketing, também mora em Porto Alegre, mas não teve a casa alagada. Mesmo assim, veio até Florianópolis para pegar um avião com destino ao Espírito Santo, onde moram seus familiares. Ela explica que a região começa, de fato, a colapsar.

“A situação é muito triste. Há muitos locais sem energia, sem água… comida a gente até encontra em alguns pontos, mas fica difícil chegar nestes abrigos. Estou seguindo a orientação do governo e vou ficar com a minha família em Vitória pelo menos até as coisas acalmarem”, relata.

Única rota disponível

Com a força da enxurrada, o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, ficou debaixo d’água, e teve suas operações suspensas, pelo menos até o fim do mês. No último sábado (4), a rodoviária municipal também ficou completamente alagada em virtude da cheia do Guaíba, que superou a marca de 5 metros. Por isso, nenhum voo ou ônibus está saindo da maior cidade do Rio Grande do Sul.

A alternativa tem sido a rota Gravataí-Florianópolis, operada pela empresa Eucatur. A linha é a única ainda em funcionamento e conta com cinco horários por dia (7h15/8h15/10h30/14h/23h55). “Entendemos que o transporte por ônibus é essencial nesse momento e, por isso, adaptamos nossa operação para o posto Rota 80, às margens da Freeway (BR-290)”, explica o coordenador da empresa, Christian Rocha.

Para chegar até o ponto de encontro, os passageiros precisam sair de Porto Alegre por um caminho alternativo e muito congestionado. “Tem dias que estou sem dormir, tentando sair da cidade. A BR está toda travada, muito trânsito. Levamos mais de seis horas para fazer um trajeto que, antes, levava 40 minutos”, relata a designer Denise Pinheiro Pompeu.

Carina Santos salvou poucos pertences quando a água subiu no RS e trouxe mudas de roupas para ela e o marido – Foto: André Viero/Reprodução/NDTV

Ela e as amigas embarcaram na noite de terça-feira (7) rumo a Florianópolis, onde alugaram um apartamento para morarem por 10 dias. “Temos muita demanda, o pessoal quer sair de Porto Alegre pra ficar em segurança, outras querem voltar pra ajudar e, por isso, estamos tentando ampliar os horários. Além disso, nossos bagageiros seguem à disposição para o transporte de donativos”, afirma o coordenador da Eucatur.

Segurança primeiro, reconstrução do RS depois

O advogado Ariel Bertazzo também desembarcou em Florianópolis. Morador de Porto Alegre, trouxe os pais, que são idosos, para ficarem na casa de amigos em Balneário Camboriú. Além disso, junto com amigos que são pilotos de avião, está organizando o transporte de medicamentos e mantimentos para as cidades atingidas.

Tragédia no RS já atinge mais de 400 municípios; previsão é de tempestades e queda nas temperaturas durante o fim de semana – Foto: Lauro Alves/Secom/divulgação/ND

“Nosso avião de pequeno porte vai partir do aeroporto Costa Esmeralda, em Porto Belo, e deve pousar na BR-116, em Guaíba. Estamos levando doações e principalmente kits médicos. Estamos priorizando remédios e vacinas contra leptospirose e tétano”, relata Ariel.

“É um momento de pressão, tristeza. A infraestrutura da cidade, assim como de boa parte do estado, está muito abalada – o aeroporto, pontes, acessos… Ainda não tem nem como começar a reparar tudo isso. Agora precisamos focar em resgatar pessoas, salvar vidas, tratar quem precisa. Quando a água começar a baixar, aí sim, vamos pensar na reconstrução. Um passo de cada vez”, finaliza.

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