Bombeiro que fez resgates no RS teve família socorrida por colegas: “Eternamente grato”

Enquanto soldado ajudava a salvar pessoas no telhado das casas, família dele recebeu ajuda para sair de casa

Marcelo Guilardi vem atuando em resgates aéreo de vítimas no RS (Foto: Lauro Alves, governo do RS)Marcelo Guilardi vem atuando em resgates aéreos de vítimas no RS (Foto: Lauro Alves, governo do RS)

A água não baixou e as doações e medidas de resposta ainda chegam ao Rio Grande do Sul, mas as cenas da enchente histórica que atingiu as cidades gaúchas já deixam marcas na memória de quem vem ajudando nos resgates e atendimentos.

O soldado Marcelo Guilardi, do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBM-RS), atua no socorro a vítimas da enchente e narra cenas marcantes vistas do alto das cidades gaúchas nos últimos dias. Com a casa em que mora também atingida pelas águas, contou com apoio de colegas da corporação para o atendimento da própria família quando ela precisou deixar a casa.

No domingo (5), foi fotografado emocionado durante um sobrevoo por uma das regiões atingidas.

Marcelo conta que os atendimentos começaram no dia 1º de maio, mas os primeiros resgates nas cidades do Vale do Taquari, as primeiras a serem atingidas, foram feitos por equipes locais porque as aeronaves ainda não conseguiam sobrevoar pela condição do tempo.

Quando houve permissão para voo, Marcelo e a equipe em que ele atua começaram os resgates de pessoas que estavam em áreas alagadas. Ele era um dos responsáveis por buscar e posicionar as vítimas sobre os telhados para que ambos fossem içados pelo helicóptero dos bombeiros.

— Eles nos davam alguns pontos específicos, mas nem precisava, porque era só decolar e você já via as pessoas em cima dos telhados — conta.

Marcelo lembra que o foco inicialmente foi o socorro às famílias do Vale do Taquari.

— Se elas não fossem resgatadas elas iriam morrer, as casas não aguentavam aquela correnteza.

Enquanto voltava os esforços aos resgates junto com as equipes dos bombeiros, Marcelo trocava mensagens com a esposa para saber como estava a situação da família. Em um dos textos, ela informou que já não conseguia sair de carro da casa em que moram, na cidade de Eldorado do Sul, uma das mais atingidas pela enchente histórica. A água continuou subindo e invadiu o piso inferior da casa. Coube a colegas de farda de Marcelo fazer o resgate da família dele, na madrugada do sábado, dia 4 de maio.

— A gente fica meio apreensivo. Entre um salvamento e outro, acaba pensando na nossa família. Que pai herói eu vou ser se estou salvando os outros e minha filha eu não consigo salvar? Mas eu tinha certeza de ter colegas, irmãos nessa instituição que não mediram esforços. Enquanto eu estava salvando em outro local, eles foram lá salvar minha família. Serei eternamente grato por essa instituição — conta.

Veja fotos do bombeiro em ação no RS

A família dele foi para a casa de uma irmã, em Porto Alegre, e ainda não pôde retornar para casa. A residência não está mais com água na parte interna, mas a rua ainda tem cerca de um metro de água. Dentro do imóvel, “só a sujeira e a destruição”, segundo ele.

O fato de ter tido a casa atingida é minimizado por Marcelo, que lembra das muitas pessoas que perderam tudo nesta enchente histórica.

— É agradecer que estou bem, que minha família está bem, e que estou pronto para salvar de novo, porque nós não paramos ainda — afirmou.

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“Não tem manual”

O bombeiro já havia atuado em resgates durante as enchentes do ano passado nas cidades do Vale do Taquari, mas destaca que as cheias deste ano superam em muito o que foi visto na região há alguns meses.

— Coisas que a gente conseguia ver ano passado sobrevoando a região do Vale, este ano a gente não conseguiu ver. Passávamos pelos locais e só tínhamos reconhecimento pelo formato das árvores, porque as casas não apareciam mais — conta.

Mesmo com experiência nas missões de salvamento e desastres, o que o socorrista viu durante os resgates nos últimos dias no Rio Grande do Sul tem um valor diferente na memória.

— São ocorrências que fogem a qualquer protocolo, não tem nenhum manual. É treinar e salvar o maior número de pessoas que der.

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