Aluna diz ter sofrido racismo durante partida de futebol entre escola pública e particular em Taguatinga, no DF


Segundo ela, funcionária e alunos do Colégio Projeção teriam feito ofensas. Em nota, escola diz que está à disposição para apurar e tomar providências necessárias. Imagem borrada mostra partida de futebol entre alunas
TV Globo/Reprodução
Uma estudante diz ter sido vítima de racismo dentro de uma escola particular em Taguatinga, no Distrito Federal. Segundo ela, uma funcionária e alunos teriam feito as ofensas durante uma partida de futebol entre duas escolas. A jovem de 16 anos estuda no Centro de Ensino Médio de Taguatinga Norte (CEMTN). O caso foi no Colégio Projeção, no dia 26 de abril.
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Ela conta que a supervisora da escola, que é também mãe de uma aluna, teria a chamado de “macaquinha”. Segundo a jovem, alunos do colégio particular também teriam feito ataques racistas durante o jogo.
“Fizeram gestos pra mim e o som de macaco, que estava rolando muito”, lembra a jovem que não será identificada.
Em menos de um mês, esse é o terceiro caso de racismo envolvendo alunos de escolas particulares do DF (veja detalhes mais abaixo).
Em nota, o Colégio Projeção disse que tomou conhecimento das ofensas raciais e que está à disposição para apurar e tomar as providências necessárias. A instituição afirma que o caso está em apuração (veja íntegra ao final da reportagem).
A direção do CEMTN afirmou que enviou um ofício à Comissão Disciplinar dos Jogos escolares do DF, exigindo a apuração dos fatos, além de uma súmula da partida e o depoimento da mesária da partida, que teria presenciado tudo. A direção também afirmou que pediu a expulsão do colégio projeção da competição.
Já a Secretaria de Educação do DF informou que foi notificada do caso e que vai apurar e tomar as medidas cabíveis diante da situação, como ouvir a mesária da partida. A TV Globo não conseguiu contato com a funcionária do Colégio Projeção.
Partida de futebol
A estudante conta que ela e os colegas do CEMTN, assim que chegaram ao Projeção, foram mal recebidos pelos torcedores.
“Começamos a partida e o que aconteceu foi que eu já tinha levado um cartão, porque realmente cometi uma falta que machucou minha adversária. Essa filha dessa supervisora estava muito em cima de mim, e eu fui apoiar nela e dei uma afastada. Ela simplesmente se jogou no chão e a mãe dela ficou muito brava”, diz a estudante.
Ela afirma que, logo em seguida, foi surpreendida com os ataques.
“Eu falei ‘sua filha não joga nada’, e ela começou a falar que eu não jogava bem, que eu tenho que aprender a jogar. Aí, eu fiquei mandando coraçãozinho para ela. Acho que foi por isso que ela se revoltou. Aí, quando eu virei as costas, ela me chamou de ‘macaquinha’ e fez gestos para mim”, conta a jovem.
Terceiro caso em menos de um mês
Denúncias de racismo e injúria racial aumentaram no DF
Em menos de um mês, esse é o terceiro caso de racismo envolvendo alunos de escolas particulares do DF:
A Polícia Civil investiga um caso de ataque racista dentro de uma escola particular, na quadra 713 da Asa Norte, em Brasília. Os ataques aconteceram na quadra de esportes do colégio Pódion, na tarde do dia 19 de abril. Segundo a polícia, os alunos do 9º ano estavam jogando queimada quando uma aluna ofendeu uma estudante com xingamentos racistas.
Já no dia 3 de abril, alunos de outro colégio particular na Asa Sul, também sofreram ataques racistas durante uma partida de futsal. Foi no Colégio Galois. Segundo as vítimas, durante o o jogo, os estudantes do Colégio Nossa Senhora de Fátima foram alvos de ataques.
O que diz o Colégio Projeção
“O Colégio Projeção tomou conhecimento de que teria ocorrido ofensa racial durante o recente jogo entre nossos alunos e a equipe do Centro de Ensino Médio de Taguatinga Norte. Tratando-se de comportamento absolutamente repudiado e combatido por esta Instituição, o Colégio CEMTN foi imediatamente procurado para nos passar informações mais consistentes sobre o caso, ocasião em que nos colocamos à disposição para apurar e apresentar o apoio e providências necessárias.
Neste momento, o caso ainda está em apuração, aguardando especialmente informações dos árbitros e registros do jogo.
Reiteramos que repudiamos qualquer forma de discriminação e promovemos ações antirracistas de forma firme e contínua. Caso o episódio relatado seja confirmado, todas as medidas cabíveis serão tomadas.”
O que diz o Colégio CEMTN
“Sobre as agressões às nossas alunas na partida futsal de 26/04 entre Projeção e CEMTN, no Colégio Projeção, válida pelos Jogos Escolares DF: Enviei de imediato ofício à Comissão Disciplinar dos Jogos Escolares do DF, exigindo a apuração dos fatos. Exigi a súmula da partida, bem como o depoimento da mesária da partida, que presenciou tudo.
Solicitei a exclusão do Projeção da competição em caso de confirmação, baseado no ART. 128 do CÓDIGO NACIONAL DE ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DISCIPLINA DESPORTIVA (CNOJDD) – “SENDO CONSIDERADA GRAVÍSSIMA A INFRAÇÃO PRATICADA, PODERÁ A COMISSÃO APLICAR A PENALIDADE DE EXCLUSÃO, SEM PREJUÍZO DA COMINADA NA RESPECTIVA INFRAÇÃO.” Recebi na segunda feira 29/04 a visita de dois coordenadores do Projeção em reunião que contou com a presença do professor responsável pelo CEMTN na partida. Os coordenadores lamentaram o ocorrido e estão dispostos a colaborar com as apurações.
Para uma ação penal, o crime de injúria racial é condicionado à representação do(s) ofendidos(s), ou seja, a abertura de inquérito e a ação judicial só são possíveis pela vítima e seus responsáveis. Nesta quinta feira 02/05 receberei os responsáveis pela aluna que foi o principal alvo dos ataques de forma a orientá-los e definir os próximos passos.
O Centro de Ensino Médio Taguatinga Norte é uma escola que preza pela cultura de paz e tem como premissa a intolerância aos atos de violência de qualquer natureza.
André Amancio – Diretor do CEMTN”
O que diz a Secretaria de Educação
“A Secretaria de Educação do Distrito Federal foi notificada, por intermédio da Globo, acerca de um incidente de racismo envolvendo alunas do Colégio Particular Projeção e do Centro de Ensino Médio de Taguatinga Norte. Diante dessa grave denúncia, serão realizadas diligências amanhã para apurar o ocorrido e tomar as medidas cabíveis diante da situação. A comissão interdisciplinar foi acionada e a mesária será ouvida.
A Secretaria reafirma seu compromisso constante em promover e incentivar ações que estimulem a paz, a cidadania, a solidariedade, a tolerância e o respeito à diversidade em todas as unidades escolares, sejam elas públicas ou privadas. Essa postura é fundamental para criar e manter um ambiente educacional inclusivo e respeitoso para todos os envolvidos.
Reforçamos a importância de uma apuração minuciosa e imparcial, visando à justiça e à segurança de todos os alunos e membros da comunidade escolar.
A intolerância e o preconceito não têm lugar em nossas escolas, e é dever de todos trabalhar incansavelmente para garantir que cada aluno se sinta seguro, valorizado e respeitado em seu ambiente de aprendizado.”
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