O presidente dos EUA, Donald Trump, depois de não ganhar o Nobel da Paz, parece ter desistido da via diplomática e deu carta branca à CIA para que a agência trabalhe no sentido de derrubar Nicolás Maduro na Venezuela. Tensão (e um déjà vu de intervenção americana) na América Latina.Trump ameaça Maduro
Donald Trump autorizou oficialmente a CIA a realizar operações secretas e letais dentro da Venezuela com o objetivo de derrubar o ditador Nicolás Maduro.
A informação foi dada primeiro pelo jornal americano The New York Times, com base em entrevistas com autoridades que permaneceram anônimas.
Poucas horas depois da notícia, que espanta pelas possíveis consequências, veio a confirmação. E na boca de Trump, com desassombro.
Em conversa com a imprensa na Casa Branca, o presidente confirmou a autorização e disse que a Venezuela estava “sentindo a pressão”. Ele não descartou operações em terra.
Os Estados Unidos, e a CIA como órgão mais simbólico disso, têm de fato um longo histórico de interferências na América Latina, em invasões ou interferências secretas —inclusive no estabelecimento da ditadura militar brasileira, em 1964.
Horas mais tarde, Maduro reagiu.
“Não à guerra no Caribe. Não à mudança de regime, que nos lembra tanto as eternas guerras fracassadas no Afeganistão, no Irã, no Iraque. Não aos golpes de Estado dados pela CIA. A América Latina não os quer, não precisa deles e os repudia.”
Chegando ao fim do primeiro ano de mandato de Trump, a pergunta que sempre acompanha movimentos do tipo é a mesma: ele vai mesmo fazer isso ou é blefe para negociar?
Dois americanos ligados a discussões sobre Venezuela no governo Trump disseram à Folha que o presidente tem em mãos uma série de planos de como asfixiar o regime de Maduro.
↪ A estratégia seria alinhada com o general Dan Caine, presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, em quem Trump teria grande confiança.
↪ A ideia seria ampliar a pressão nas próximas semanas com operações militares nos arredores da Venezuela, sem invadir o país, e trabalhar com a inteligência americana para capturar Maduro.
↪ O sinal que os EUA dariam é que estão dispostos a tirar o líder do poder preso ou mesmo morto, para que o ditador se entregue e abandone o comando do país voluntariamente.
A estratégia tem o apoio do secretário de Estado, Marco Rubio, que é filho de cubanos exilados e fez carreira política como forte opositor de regimes de esquerda na América Latina.
O movimento mira também passar recados para a região. Um deles seria o de que haverá reação dura dos EUA se países, o Brasil inclusive, não trabalharem para controlar a atuação do crime organizado latino-americano nos EUA —vários cartéis e grupos criminosos foram considerados organizações terroristas por Trump recentemente.
A estratégia é uma espécie de Frankenstein americano, que junta a guerra às drogas à guerra ao terror. Leia a análise de Igor Gielow sobre a cartada arriscada de Trump.
A Força Aérea americana enviou três bombardeiros estratégicos B-52, nesta quarta-feira, para um voo no mar do Caribe, junto à costa da Venezuela. Chegaram a menos de 200 km de Caracas.
Um deles, inclusive, era do contingente que também é habilitado a operar armas nucleares.
